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O bom momento de Lula

Alguns meses atrás, a leitura dominante em Brasília era de que a reeleição de Lula parecia improvável. O governo atravessava desgaste desde janeiro (caso Pix, crise no INSS), e o quadro externo azedara com o início do tarifaço dos EUA. De lá para cá, a política virou algumas chaves: o Planalto ancorou sua narrativa na defesa da soberania frente às tarifas ao invés do bolorento “nós contra eles”, capitalizou a condenação de Jair Bolsonaro no STF e, no plano internacional, obteve um gesto de distensão com Donald Trump na ONU. O resultado é um ambiente hoje mais benigno ao presidente — não resolvido, mas com chances reais de vitória.

As pesquisas mais recentes captaram essa inflexão. No Pulso Brasil/Ipespe, a aprovação do governo subiu 7 pontos desde julho e atingiu 50% (desaprovação: 48%). É a primeira vez em meses que a aprovação fica numericamente acima da desaprovação — um sinal de recuperação do capital político. Nos cenários eleitorais, dois institutos reportaram ligeira vantagem para Lula. A AtlasIntel/Bloomberg mostra o presidente com 48,2% no primeiro turno contra 30,4% de Tarcísio de Freitas; no segundo turno, Lula aparece com 50,6% ante 45,2% do governador paulista.

A leitura de conjunto é de vantagem pequena a moderada, consistente com o noticiário de média das pesquisas. Importa notar a heterogeneidade por instituto e método. Em meados de setembro, o Datafolha também detectou melhora da aprovação, mas em patamar mais baixo, lembrando que séries distintas não são diretamente comparáveis e que o movimento é mais importante que o número absoluto.

“Há caminho para vencer — e há muitos modos de perder. Outubro dirá se o bom vento virou corrente”

O fator externo pesou na melhora das expectativas. As tarifas de até 50% impostas por Washington permitiram a Lula ocupar a pauta nacional-desenvolvimentista e enquadrar a disputa como soberania x tutela, discurso que comunica bem ao centro e à base popular. A repercussão do encontro cordial na ONU, com Trump falando em “química”, quebrou a imagem de isolamento e abriu janela para negociação sobre tarifas — um ativo simbólico relevante.

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No front interno, três movimentos ajudam: (1) mercado de trabalho ainda resiliente e alívio na inflação de alimentos, que atenuam o humor na base de menor renda; (2) reforço de programas sociais e de tarifa social de energia, que sustentam renda disponível; (3) o efeito STF após a condenação do ex-presidente, que reativa a narrativa de defesa da democracia. Essas variáveis explicam por que parte do eleitorado reticente voltou a considerar Lula “viável”, mesmo mantendo críticas à condução macroeconômica.

Dito isso, não há corrida encerrada. A vantagem é estreita, oscilante e dependente de fatores voláteis: rumo das negociações com os EUA (tarifas/sanções), tração da agenda econômica no Congresso (MP de receitas, IR até 5 mil reais, regulamentação do IBS) e, sobretudo, a capacidade de o governo reduzir ruído entre ministérios e entregar previsibilidade. E enterrar, de vez, o discurso nós contra eles.

A política é movimento. Se até poucos meses atrás se dizia que a reeleição de Lula era improvável, hoje o cenário lhe é moderadamente favorável, com ligeira vantagem em parte das pesquisas e aprovação em recuperação. Há caminho para vencer — e há muitos modos de perder. Outubro deve dizer se o bom vento virou corrente.

Publicado em VEJA de 3 de outubro de 2025, edição nº 2964

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