Em contato com mediadores, o chefe da ala militar do Hamas em Gaza, Izz al-Din al-Haddad, indicou não concordar com o plano apresentado nesta semana pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para um cessar-fogo que leve ao fim do conflito com Israel. As informações foram reveladas pela emissora britânica BBC nesta quinta-feira, 2.
Acredita-se que al-Haddad avalie que o plano foi elaborado para eliminar o Hamas, independentemente de o grupo o aceitá-lo ou não. Ao apresentar a proposta na Casa Branca ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, Trump afirmou que caso o grupo palestino rejeite o plano, Israel terá o apoio dos Estados Unidos para “terminar o trabalho de destruir a ameaça” terrorista. Portanto, diz a BBC, o líder militar estaria determinado a continuar lutando.
O roteiro de 20 pontos para encerrar a guerra – que já foi aceito por Israel – estipula que o Hamas se desarme e não tenha nenhum papel futuro no governo de Gaza. “Seria uma capitulação completa do grupo”, disse a VEJA Luís Winter, professor de direito internacional da PUC-PR.
Pontos da discórdia
Segundo a BBC, parte da liderança política do Hamas, um grupo que há anos vive em exílio no Catar, esteja aberta a aceitar o plano — com alguns ajustes. No entanto, sua influência é limitada, pois essa ala não tem controle sobre os reféns israelenses mantidos em cativeiro em Gaza. Autoridades israelenses afirmam que 48 dos sequestrados estão sob posse do grupo, dos quais apenas 20 estariam vivos.
Outro obstáculo para algumas lideranças do Hamas é que a proposta exige a entrega de todos os reféns nas primeiras 72 horas do cessar-fogo — abrindo mão de sua única vantagem e moeda de troca.
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Mesmo com a garantia de Trump de que Israel vai cumprir os termos do acordo, há uma falta de confiança dentro do grupo. Muitos acreditam que Israel pode retomar suas operações militares após receber os reféns. Em março deste ano, o país se recusou a levar adiante a fase 2 de um acordo de cessar-fogo anterior, que previa o início de conversas sobre o fim permanente da guerra, após a devolução de alguns grupos de reféns na fase 1. Além disso, após um ataque israelense em Doha para assassinar lideranças do Hamas no mês passado, em desafio aos Estados Unidos, o grupo desconfia que o governo Netanyahu não seja tão subserviente a Trump quanto aparenta.
Alguns líderes do Hamas também se opõem ao envio, por Washington em colaboração com países árabes, do que o plano descreve como “uma Força Internacional de Estabilização temporária” para Gaza, que eles veem como uma nova forma de ocupação. Além disso, um mapa da proposta de retirada gradual dos soldados israelenses do enclave, compartilhado pelo governo Trump, mostra o que ele chama de “zona-tampão de segurança” ao longo das fronteiras de Gaza com o Egito e Israel, a ser mantida pelas forças israelenses até que sejam criadas as “condições possíveis” para a retirada completa. Ou seja, uma definição vaga o suficiente para que o país mantenha controle indefinido sobre uma porção do território palestino.
Mensagens mistas
A postura de Netanyahu também gera desconfiança. Desde que concordou com o plano na noite de segunda-feira, o primeiro-ministro israelense parece ter rejeitado vários de seus termos. Em um vídeo compartilhado no X (ex-Twitter), ele insistiu que os militares poderiam permanecer em partes de Gaza e que Israel afirmou que “resistiria à força” a um Estado palestino.
Isso vai contra a proposta dos Estados Unidos, que estipula a retirada completa das forças israelenses, “exceto por uma presença no perímetro de segurança (a “zona-tampão”) que permanecerá até que Gaza esteja devidamente protegida de qualquer ameaça terrorista ressurgente”.
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O documento também afirma que, uma vez concluído o plano, pode haver um “caminho confiável para a autodeterminação e a criação de um Estado palestino”.
Anteriormente, o Hamas já havia afirmado que não entregaria as armas até que uma Palestina soberana fosse estabelecida.